A encruzilhada como método para acionar as tecnologias ancestrais e populares de cuidado e cura
DOI:
https://doi.org/10.19123/REixo.v14.n1.4Palabras clave:
descolonial, encruzilhada, intercientificidade, tecnologias ancestrais e populares, terapeutas popularesResumen
Este é um texto-manifesto, situado no método da encruzilhada, que reivindica deslocamentos epistemológicos em favor das tecnologias ancestrais e populares de cuidado e cura. Em um estilo teórico-crítico, propõe-se tensionar os modos branco-hegemônicos do fazer-pesquisa em saúde, [re]afirmando a centralidade das pluriversalidades e cosmopercepções ancestrais e populares como propulsoras de sofisticados sistemas de cuidado. Em um movimento espiralado, estabelece-se um conversatório em que o método etnográfico é convocado a ser atravessado pelas miudezas do campo interlocutor, permitindo-se afetar pela cosmopercepção daqueles que protagonizam esses saberes-fazeres-práticas alicerçados na memória oral-ancestral. A partir daí, reposiciona-se as tecnologias ancestrais e populares como uma ciência viva, que opera para além da institucionalização e da sistematização metodológica etnocêntrica. Por fim, destaca-se a luta pelo pertencimento e pelo direito à existência dos notórios saberes-fazeres-práticas ancestrais e populares, junto às suas tecnologias. A encruzilhada emerge, assim, como método libertário, contrahegemônico e descolonial, evocando a Casa como espaço-lugar de inventividades e oralituras dialógicas, onde a ancestralidade forja identidades e [re]existências em territórios e comunidades que protagonizam redes de sociabilidade e cuidado. O principal achado é que a metodologia da produção de evidências científicas é operada pela branquitude e as suas tecnologias do medo, por isso a necessidade da encruzilhada como um método pluriversal descolonizador das produções científicas em saúde.
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